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terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Manifesto Neo-Ortodoxo

José Luiz Martins Carvalho Artigos
No início do século XX, a teologia cristã estava dominada por um movimento denominado liberalismo teológico, como implicação religiosa de todo o racionalismo e relativismo advindos do iluminismo europeu. Este movimento havia exacerbado a noção de imanência divina a tal ponto de não mais se considerar necessária a Revelação de Deus para que o homem pudesse conhecê-lo. Para o pensamento teológico liberal, há continuidade entre Deus e o mundo, não havendo, portanto, impossibilidade ontológica de o ser humano conceber o conhecimento de Deus pelas vias da Razão. Foi precisamente contra isto que um grupo de teólogos capitaneados por Karl Barth, Eduard Thurneysen, Friedrich Gogarten, Rudolf Bultmann, Paul Tillich, entre outros, levantou a sua voz.
Inicialmente denominado de “teologia dialética” na Europa e, mais tarde, de “neo-ortodoxia”, nos Estados Unidos, este movimento tem a Palavra de Deus como princípio arquitetônico de todo o restante de seu labor teológico, que é classificada por historiadores de quaisquer confissões cristãs como uma “teologia kerigmática”, que solapou o liberalismo secularizante e o fundamentalismo árido. É o resultado da crise política, estrutural e cultural que surgiu no pós-guerra (1ª Guerra Mundial): reação à teologia liberal e seu mito do “progresso” humano (desenvolvimentismo ou progressivismo, mormente defendido pelas ciências naturais no evolucionismo).
A neo-ortodoxia não é uma corrente doutrinária, mas uma forma de fazer teologia, caracterizada, sobretudo, pelo método dialético, que se desdobrou mais tarde na analogia de Barth, na correlação de Tillich e no existencialismo de Bultmann, e pela ênfase na Revelação, como uma resposta ao liberalismo clássico, seja conforme expressa na versão cristológica de Barth, na resposta de Tillich ou no querigma de Bultmann.
As Escrituras são reconhecidas pelos neo-ortodoxos como Sagrada Escritura, isto é, como documento original do evento conhecido como “Jesus, o Cristo”, que é o critério de toda Escritura e a manifestação do princípio protestante. O Evento Cristo não é entendido meramente como fato historicamente observável, mas como fato real, como a intervenção salvífica de Deus na História. Enquanto o liberalismo e o fundamentalismo buscam a segurança para a veracidade da Revelação Bíblica na comprovação científica e histórica, a neo-ortodoxia caminha plenamente de acordo com o princípio reformado de que a capacidade de reconhecer a Bíblia como Palavra de Deus não provém de estudos históricos ou arqueológicos, mas pela ação do Espírito que outorga a fé, conforme afirma Calvino: “procedem insipientemente, porém, aqueles que desejam que se prove aos infiéis que a Escritura é Palavra de Deus, pois que, a não ser pela fé, [isso] se não pode conhecer” (Institutas I, VIII, 13).
Não obstante, é necessário esclarecer que esta subjetividade não elimina a segurança da revelação bíblica, pelo contrário, ela a reforça sobremaneira, porque a coloca sobre a base correta, que não é a da verificação histórica ou científica, mas a do testemunho e da testificação do Espírito Santo! O mesmo agente da inspiração é aquele da testificação. Essa é a nossa única segurança e ela é plenamente subjetiva. É por isso que a neo-ortodoxia entende a Revelação de forma extremamente dinâmica: ela se expressa nos atos e palavras de Deus na história, especialmente em Jesus Cristo, conforme testemunhado nas Escrituras e proclamado pela Igreja. Em todos estes níveis, Deus se Revela através da ação do Seu Espírito!
Sendo assim, a teologia neo-ortodoxa é sempre um fundamento à proclamação do Evangelho ao mundo, isto é, ao Querigma. E o Querigma é sempre um apelo a uma decisão existencial, de fé, para aqueles que não viram, mas que devem crer, sem nenhuma outra segurança além da própria ação do Espírito no coração. E deve-se dizer que o Quérigma não nasce a-historicamente, antes é expressão de uma postura existencial, caso contrário, segundo o apóstolo Paulo, é verborragia.
Para a neo-ortodoxia, a fé como comprovação de fatos é algo meramente racional, diferente da fé bíblica. A fé fundada na verificação de fatos exige a razão, mas a fé bíblica exige a pessoa inteira, na verdade o sentido da sua vida. Se faltar esta verdade, faltam os motivos e sentidos de viver. A fé bíblica é a que solicita participação, engajamento, envolvimento, não de uma parte do ser humano, mas dele todo. Não é ter uma verdade, é, antes, estar tomado por esta verdade. O chamado da fé é, por isso, incondicional em sua exigência. Não é só para “acreditar” que Deus existe ou que Ele é o Criador, mas para amá-lo de todo o entendimento, alma e coração. Não exige e pede só a razão, mas, acima de tudo a existência do crente, sendo Deus a sua preocupação primeira e última, o seu sentido primeiro e último.
No que se refere à interpretação bíblica, um neo-ortodoxo não despreza a escola histórico-crítica, mas entende, com Barth, que este método não chega aos objetivos, pois detém-se nas folhas e não vai ao caule, fica na periferia e não desce ao centro. Assim como o “filologismo” da crítica-textual. Com isso, a neo-ortodoxia volta-se às Escrituras como princípio primeiro da teologia, sem desprezar seus dois elementos de entendimento (histórica e textual), mas não limitando-se a seus resultados. Busca, então, nos clássicos (reformadores, como Lutero e Calvino, além de Agostinho e o Padres Antigos) para resgatar os valores destruídos pela análise meramente histórica da teologia liberal. Os contrastes entre a Ira e a Graça de Deus, entre o Pecado do Homem e a Justiça, colocados sempre sob o prisma do Tempo e da Eternidade, fascinaram o movimento. Tempo e eternidade, homem e Deus, céu e terra, estarão sempre dialeticamente colocados, assim como Igreja Visível e Invisível (Calvino), Instituição e Movimento (Lutero).
Paralelamente, esta perspectiva vai confrontar também a visão fundamentalista em relação à Bíblia, que despreza a tensão dialética entre a letra (as condições do texto escrito) e sua mensagem (o Logos Eterno). Como o totalmente transcendente (Deus) pode ser encontrado na imanência (história), o absoluto (Deus) no efêmero (homem). Donde logo se vê que a síntese é Jesus Cristo. Palavras divinas e ações divinas não podem ser confundidas com palavras humanas e ações humanas (a distância entre céu e terra, tempo e eternidade, permanece), Deus é transcendente. A Escritura é testemunho sobre Deus: aponta para a verdadeira revelação, o Logos Divino, Jesus Cristo (síntese do tempo e da eternidade, do absoluto e do efêmero, do permanente e do transitório: Deus-Homem). Com isso, nega-se também a Teologia Natural, tão querida dos escolásticos e dos liberais. Esta teologia não existe como tal. Qualquer teologia nasce e alimenta-se nas Escrituras, quando a sabe abordar de modo profundo (leia-se dialético). Esta dialética é feita assim: de um lado a história, de outro a Escritura e, desta síntese nasce a palavra divina para o contexto vital.
Destarte, a hermenêutica neo-ortodoxa vai nortear-se pela famosa assertiva de Karl Barth, que diz que um teólogo só pode fazer teologia com um jornal na mão (tempo) e a Escritura (eterno) na outra. Seu trabalho é elaborar esta síntese. Teologia é, assim, Quérigma: proclamação! Senão permanece como a teologia liberal, a idéia, pela idéia, sobre a idéia, sem confrontar a realidade, sem questionar, sem incomodar, ou seja, sem proclamar. A Bíblia, assim, torna-se aquilo que deve ser: Palavra de Deus ao mundo; na medida em que questiona seu ouvinte e o confronta, exigindo-lhe mudança ou engajamento. Pregar é, pois, chamar, conclamar, desafiar. A Palavra deve gerar uma crise e a crise de Deus neste mundo se dá por Jesus Cristo. No efêmero do Seu rosto humano, aparece a face oculta do Deus Vivo. Por isso o mundo o rejeitou e matou: rejeitou a Sua pregação, pois era por demais crítica, questionadora, revelando a miséria humana e chamado os homens à vontade divina.
Por seu turno, os fundamentalistas vão assemelhar-se aos liberais, pois fazem o caminho inverso ao proposto pela neo-ortodoxia: eles submetem a hermenêutica bíblica às categorias de verdade do modernismo, especialmente as de “fato histórico” e “fato científico”. E assim o fazem porque baseiam-se nos seguintes pressupostos: 1) O ser humano pode conhecer a verdade; 2) A verdade é conhecida; 3) O que a comunidade ou grupo confessa corresponde à verdade. Desse modo, acreditam que professam a verdade naquilo que afirmam, pois seguem o mesmo pensamento dos que dizem que a verdade encontra-se nas coisas e pode ser apreendida totalmente pela razão e, sendo todos racionais, todos podem chegar a este conhecimento. A isto denomina-se senso-comum: todos podemos experimentar, todos podemos observar e, por isso, todos podemos chegar às mesmas conclusões, visto que não há idéias prévias mas, somente, os fatos em si que só podem expressar uma única verdade. O conhecimento está ao alcance de qualquer pessoa, visto que não depende de nenhuma outra mediação (seja filosófica, seja científica, ou mesmo de idéias inatas): basta observar e deduzir.
Aqui está o grande problema da compreensão dos fundamentalistas que os aproximam dos liberais e os levam para longe da neo-ortodoxia: eles desprezam o que é, de fato, a Revelação Divina. Acreditam que ela está subserviente ao conhecimento científico. Deste modo, sua visão se estreita ao ponto de deificar o texto bíblico, pelo que jocosamente Karl Barth os acusa de fazer da Bíblia um “papa de papel”. A salutar compreensão neo-ortodoxa, que somente evoca o pensamento cristão mais básico, é a de que Deus se revela primordialmente em ações e palavras dirigidas ao seu propósito salvífico na vida e na história humana, ações e palavras estas que, só mais tarde, vão ser dispostas num relato escrito.
Desta forma, assegura-se a singularidade da Revelação Cristã e preserva-se um critério universal e insuperável para a ética: o Evento Cristo! Tanto em Barth, como em Tillich, Bultmann e, especialmente, em Bonhoeffer, Jesus Cristo, a plena Palavra de Deus, é o critério e a medida da ética cristã. E isso é universal e insuperável, não havendo o menor espaço para relativização. Ao contrario do liberalismo e do fundamentalismo, na neo-ortodoxia, portanto, a Revelação de Deus em Jesus Cristo é o único fundamento de fé e de prática, de doutrina e de ética para a Igreja. Mais ortodoxo? Impossível!

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